No fim-de-semana passado terminei o "Uncharted 3". Sempre gostei muito da série, especialmente do segundo. São bons jogos de aventuras com momentos, particularmente a partir do segundo, dignos de um blockbuster. Em diversas ocasiões "Uncharted" é mais cinema do que videojogo, mas isso não significa que não estejamos a jogar. Ou que possamos pousar o comando. Isso é uma boa notícia.
Só que é também um artifício para disfarçar o quão aborrecido se torna quando se torna num jogo de tiros, com esquemas repetidos, por mais abordagens diferentes que se possa fazer. Eu gosto dos "Uncharted" mas frequentemente aborreço-me nessas cenas. Talvez por a mecânica não ser tão perfeita como o resto ou por ser apenas palha para enfiar jogabilidade num jogo que não precisaria de ser tão longo. Mas se não tivesse isso seria curto ou então nem seria um jogo.
Esta geração de consolas, mais do que qualquer outra, trouxe-me essa sensação. Não é mau, mas relativiza muito a ambição do que se quer e de como se vê os videojogos. São objectos que fazem muitas concessões, são como filmes que optam por atalhos ou buracos para justificar o entretenimento. Eu não gosto disso. Entretém-me, mas não gosto. Toma-se as coisas muito por assumidas e generaliza-se. A maior parte do cinema que vemos não é cinema e muito menos arte. É algo projectado num ecrã ou colocado numa televisão. Palavras por estarem impressas em papel ou lidas num formato de livro não são instantaneamente arte. Da mesma forma que lá por se escrever não se é um escritor. Por se realizar não se é um artista. E etc. Os videojogos procuram rapidamente esse estatuto artístico e estão a fazê-lo da forma errada. Entretenimento não é arte. Ou "não o é necessariamente".
Tenho pensando nisto porque inevitavelmente encontrei-me com o entusiasmo em volta de "Bioshock Infinite". Adorei o modo como a história é contada, não é revolucionário, mas tem tomates e está muito bem executado. Adorei o final, fiquei parvo quando aconteceu. Não porque não estivesse à espera, mas pela forma como minimiza a estrutura dos videojogos: é fascinante perceber isso e, contudo, voltarmos constantemente a eles. Mas, lá está, não é assim tão admirável. Nós, enquanto consumidores, é que estamos habituados a pouco: o padrão está baixo e engole-se o que vem ao de cima. Basta pensar em Inception de Christopher Nolan e perceber o quão banal é. Simplesmente nós, como público, é que já não recebemos - ou desabituámo-nos a receber - produtos que nos desafiem. Acostumámo-nos ao entretenimento, aborrecemo-nos com tudo o resto. Porque nos dizem que não temos tempo, paciência e tudo mais. Mas temos, só que fomos mal vacinados.
"Bioshock Infinite" faz uma série de concessões: Booker usa poderes que são fabricados em massa em Columbia mas que quase ninguém mais usa; há um período a meio que é claramente para encher (e sente-se tanto no ritmo do jogo...); e parte do final acaba por ser aquela espiral inconclusiva que meio-mundo gosta. É estranho é ainda continuar a gostar.
Isso estraga a experiência de jogo? Nem por isso. Eu passei bem sem pensar ou notar nestas coisas. Há algo maior que me movia e que gostava que me movesse. Mas chego ao final, acaba aquela tusa de mijo do imediato e tudo começa a ficar difuso, simples demais, e passo a sentir-me enganado. Sinto que os videojogos poderiam ser muito mais e isso poderia começar por não nos enganar ou por simplesmente haver uma luz quando a maior parte dos jogos nos domesticam para ser burros.
Tudo isto não faz com que eu deixe de jogar. Não me torna mais infeliz nem me tira o prazer. Só quero mais. Quero saber porque é que fico alguns minutos a simular karaoke em "Sleeping Dogs" para conseguir um achievment. Porque é que passo horas a contornar o final de "Fire Emblem" quando podia simplesmente avançar. Ou porque desligo as vozes quando jogo "Call Of Duty" online (e até prefiro jogar sem som). Este blog é para falar sobre videojogos mas, acima de tudo, para eu perceber de que não é mais do que uma indústria e tenho de viver bem com isso.
Porque importa.
in Artigo