Miami Psycho

Por vezes existem indicações nos jogos para usarmos headphones como forma de entrarmos com mais intensidade no universo deles. Noutras tomamos nós a iniciativa, pelas mesmas razões ou por pura e simplesmente estarmos com mais atenção ao que se passa no universo à nossa frente. Ajuda a concentrar, ajuda sobretudo a viver a experiência.

"Hotline Miami" é um dos jogos que dá essa indicação. Não é para ouvirmos os pormenores do jogo e, sim, para a banda-sonora entrar efusivamente no nosso corpo e conduzir-nos para um estado de embriaguez e êxtase excessivo, como se estivéssemos a viver a duzentos à hora ou alterados com cocaína. Esta última ideia é óbvia, a acção do jogo passa-se em 1989 e o som serve para induzir um estado que corresponde na perfeição às acções praticadas no jogo. Bem como ao formato de trial and error que o jogo fornece.

As acções mais óbvias não são as que prevalecem durante o jogo. Mas também não são as mais controladas e sim aquelas que são induzidas pelo sistema do jogo, conduzidas pela banda-sonora frenética e repetitiva de cada nível que, após algumas iniciativas forçam o jogador a tomar uma iniciativa descontrolada. É quase como se quiséssemos ser aquela personagem: e somos, a mecânica e a história do jogo jogam bem com isso.

Com o nosso prazer, não só de jogar, mas de praticar aquelas acções. De certa forma é doentio, mas é um doentio controlado e é isso que torna "Hotline Miami" tão especial. É uma experiência rara, porque é um género há muito batido, com um estilo retro, mas com uma série de funcionalidades que só poderiam acontecer aqui e agora.

A experiência que tive na PS Vita foi frustrante e simultaneamente gratificante. Por vezes dá vontade de ficar simplesmente retido em certas situações, à espera que aquele momento de loucura funcione. Porque a repetição de acções nem sempre dá o melhor resulta, resulta sim a libertação após viver a experiência vezes e vezes sem conta.

Depois de acabá-lo, quero agora reconstruir todo o processo na PS3. Pelo pouco que experimentei parece-me tudo mais completo, porque os joysticks da PS3 são maiores e respondem melhor. Embora seja um jogo perfeito para uma consola portátil, a precisão é essencial e nem sempre isso é conseguido na PS Vita. Agora só quero bater recordes e dar o meu melhor em género de trophy/achievement whore. Não vai ser obsessivo, porque isso é parte de "Hotline Miami". Fazendo parte, não vale a pena pensarmos muito nisso.