Esta notícia sobre intenções de Hideo Kojima para o novo "Metal Gear Solid" tem alguns dias e provavelmente já ninguém se lembra dela. Entretanto muita gente se manifestou contra esta ideia, expressando até que a indústria está cheia de man-babies. É verdade. Kojima já comunicou que o que disse não era bem aquilo que queria dizer.
O universo de "Metal Gear Solid" é singular, tem as suas próprias regras e o non-sense é qualquer coisa de regular. Talvez mais do que ser singular, Kojima conseguiu criar um universo dentro de uma bolha, quem está por dentro da série aceita tudo; quem gosta tolera aqueles minutões de cut scenes que, por exemplo, tornaram "MGS IV" numa espécie de filme interactivo. Goste-se ou não, não há nada assim.
Por isso, este tipo de comentário vindo de Kojima não é de estranhar. O que é estranho é achar que precisa de incentivar o cosplay quando a caracterização das suas personagens deu sempre para isso e para muitos mais. Mas uma coisa é verdade, a indústria está cheia de man-babies. E também de woman-babies. E não é por uma questão sexual, de referenciação ou de misoginia. Mas sim de uma constante adolescentilização e de obediência a morais pouco inteligentes, que muitas vezes advém da falta de formação e, curiosamente, da falta de leitura (melhor: boa leitura).
Uma das mais evidentes, e infelizmente não se reflecte só nos videojogos, aliás, até se manifesta mais em televisão e no cinema, é a obediência aos avisos anti-spoiler. Saber o final - ou algo ali pelo meio -, para mim, não estraga a experiência. Imagino que para a maioria também não, só que fomos educados a sermos pessoas dirigidas pela narrativa. Isso é um erro, principalmente em artes que conjugam outras, porque o que importa num filme não é só o texto; o que interessa num jogo não é só o texto. Essa necessidade da história e uma mentalidade virada totalmente para aí, essa total ausência de noção de que é o cinema (não basta ser projectado numa tela para ser cinema) é uma das razões para a degradação da qualidade.
Os culpados não são só os criadores, nem o público, são, sobretudo, os media (pareço o Aaron Sorkin). A obediência a esta geração anti-spoiler é absolutamente ridícula. Até porque entra em conflito com a própria ideia: se a história é uma coisa tão importante, como é que se pode fazer crítica passando um pouco ao lado dela e de todos os seus processos que levam ao seu final?
Nos jogos isso ganhou predominância nesta geração, quando os gráficos começaram a ganhar contornos mais cinematográficos - não é coincidência - e a atenção à história passou a ser outra. Seria de esperar que com um comando na mão a história fosse algo de secundário, mas passa-se exactamente o contrário: o controlo da personagem faz com que a sintamos mais nossa, logo, prefere-se que a história seja vivida por quem tem o comando na mão.
Mas se o desejo é não saber nada, então porquê ler? Especialmente críticas. Porquê ver vídeos de opiniões, porquê entrar dentro do meio? Ao vermos só a história, ou ela ocupar tanto espaço no nosso campo de visão, é deixar ir mais de metade da piada da coisa. É estacionar dentro da criança em nós que chora quando não tem o que quer no Natal. É assumir que a arte e o entretenimento estão estanques numa única forma de comunicação.
E na impossibilidade das mentalidades mudarem, resta esperar que isto dê a volta e que um dia nos esqueçamos que vivemos numa sociedade em que temos de estar calados para o vizinho não estar chateado, apenas porque vê as coisas de uma forma diferente.