As Crónicas de André Santos em Los Santos #6

No início do Verão decidi que era altura de fazer um upgrade à minha forma de jogar. Costumava jogar com headphones, mas decidi investir nuns a sério para jogar, que ligassem directamente à PS3 e não à televisão. Assim foi e com os Elite da Sony consigo instantaneamente uma espécie de tunnelvision auditivo. Era o que queria, principalmente sentir que só estou a ouvir o que estou a jogar. E mais nada.

Esta experiência tem sido especialmente gratificante em "Grand Theft Auto V". Há muito para ouvir e aqueles momentos em parece que estamos a viver o momento certo com a música perfeita batem mais. Aleatório ou não, esses momentos tornaram sempre os "GTA" em jogos especiais. Por vezes parece que lê o nosso estado de espírito ou, então, deixamo-nos engolir totalmente por aquele universo.

Durante o meu primeiro heist a experiência pareceu mais intensa. Além de estar a jogar pela primeira vez uma das grandes inovações deste "GTA", é daquele género de coisas que gosto de planear e fazer nos videojogos. Não é que seja particularmente bom nisso, mas dá-me gozo. E é por isso que na primeira missão do género resolvi a abordagem "smart": sossegada e eficaz.

Não sei se o coração batia mais rápido, mas durante aqueles quinze/vinte minutos só queria ouvir aquilo. Os sons ao meu redor como uma certificação de que estava a fazer tudo bem, cada barulho ou fala uma espécie de frase do meu plano, um garante de que tudo estava em sintonia e que ia correr tudo bem.

Saio da joalharia e pego na mota. As duas primeiras vezes falhei no caminho certo e tanto numa como noutra fiquei alguns minutos a apreciar o silêncio da cidade. Por alguma razão, partes da cidade ficaram desertas durante o heist e eu podia andar na rua sem carros, sem pessoas, só ouvindo os meus passos e as indicações que os meus colegas iam dando. De repente, Los Santos parecia maior. Levar com aquela cidade no silêncio é qualquer coisa de aterradora como única.  Os meus ouvidos já não estavam habituados ao silêncio e de repente pareci-me engolido por ele, como se o estivesse a sentir numa situação no mundo real.

Voltei à missão e à terceira consegui, naqueles magníficos túneis em construção por baixo da cidade. Fiquei embasbacado com aquilo estar à acontecer. Às vezes estamos tão fascinados com tudo o resto que até esquecemos que estas situações e caminhos são comuns nestes e noutros jogos.

Acabo a missão. Sinto que cheguei a um marco importante no jogo e que a partir de agora vai ser melhor do que nunca. Estava satisfeito. Porém, num momento de silêncio entre troca de ecrãs, apercebo-me que alguém está a gritar fora do mundo do jogo. Tiro os headphones e noto que os gritos são muito altos, mas demoro a perceber o que era porque estava algo atordoado com tudo. Volto à realidade, percebo que uma vizinha minha está a ter um orgasmo, com a janela aberta. Por momentos pensei que ela estava a celebrar o meu primeiro heist, mas depois ao ver que a minha pontuação não tinha sido tão boa quanto isso, achei que aquilo era um exagero da parte dela e que não tinha nada a ver com o meu jogo. Tal como "GTA" às vezes encontra a música perfeita, o meu heist terminou com a conjugação falsa mas perfeita. Num breve segundo senti que os protagonistas de "Grand Theft Auto V" tinham inveja de mim: eles não moram em apartamentos.