Crónicas

As crónicas de André Santos em Los Santos (agora em 1080p) #I

Ontem quando programei o download na loja online da Sony estava longe de achar que quando chegasse a casa a consola já tivesse feito o download do “Grand Theft Auto V”. Do "Rogue Legacy" e do "Counterspy" sim, mas do “GTA V” não. Era muita fruta. Eu já perdi muito tempo a ver downloads a evoluir na Playstation 4 para saber que nunca é fácil. Cheguei a casa e fui ver o status da coisa, o estar ou não estar é daquelas coisas que muda por completo o planeamento de uma noite. Estava. Milagre. Estava o “GTA V” e todos os outros. Não conseguia acreditar.

Por uns minutos senti-me relaxado, mais logo poderia sentar-me, só teria de esperar uns minutos enquanto a coisa instalava, mas a espera seria facilmente superada com uns jogos de "Threes". Fiz o que tinha para fazer, comer, ver cenas, café, até lavei a loiça, numa onda de supremo relaxe para ir para Los Santos completamente descansado. Só eu e uma espécie de miragem de felicidade infinita

Por uns breves momentos, senti-me genuinamente feliz.

É raro as coisas correrem assim tão bem. Ligo a Playstation, sento-me no sofá, inicio o “GTA V”, levanto-me para fazer chichi (better safe than sorry) e quando volto já está a instalar. 1%. Deve ter começado agora, pensei. Começo a jogar "Threes". Estava tão confiante que tudo ia correr bem que até deixei os headphones postos enquanto passava a música genérica do "GTA V".

É agradável.

"Threes" é o "Tetris" para smartphones. Esqueçam os clones, as imitações, no "2048". "Threes" é aconchegante, as cores, as animações dos números, o modo absurdo como nos deixamos ficar a jogar mesmo fazendo péssimas pontuações sucessivas. Perco a noção do tempo a jogar "Threes", uso-o muito nas viagens de metro, são substancialmente mais curtas com essa companhia e como estou limitado de tempo, faço contra-relógios fictícios com a minha mente. Raramente resulta bem. E perco a noção do tempo. E fiquei espantando quando tinham passado trinta minutos e a instalação ainda estava nos 8%.

Lembrei-me que na PS3 também tinha demorado imenso tempo a instalar. Mas não tanto tempo assim. E as instalações até são rápidas na PS4. Merda, pensei. E pensei que poderia procurar no telemóvel se isto é normal, porque lembro-me de ter lido qualquer coisa sobre isso nesta semana. Mas a preguiça, ou o medo de enfrentar a verdade puseram a jogar "Nidhogg" na Vita. Já o tinha no PC, mas por qualquer razão, nunca lhe toquei quando soube que iria sair para consolas.

É divertido à brava, foram mais quarenta e cinco minutos bem passados, só tive pena de não ter conseguido jogar online, certamente será muito mais divertido do que fazê-lo contra o computador. Fica para outro dia. Uma hora e quinze minutos e nem aos 50% chegou. Raios. Tenho mesmo de ir à net. Vou, Google, e descubro que o "download completo" é semelhante ao do "Battlefield 4": uma farsa. Grande parte do download é feito durante a instalação, ou seja, quando cheguei a casa, o glorioso sucesso da minha consola em suspensão foi afinal um fracasso.

Ainda faltavam uns 10 GBs, era uma e tal da manhã e começo a pensar que esta coisa de viver no primeiro mundo é tramada: nada é fácil. Penso nas possibilidades, penso nas horas, e vejo que não tirei o disco do "Driveclub" da consola. Bem, o "GTA V" tem carros, o "Driveclub" é um jogo de carros: vai ser como ir de lua-de-mel para as Berlengas.

Chicago, Chicago #2

Continuo com a sensação de que "Watch Dogs" está longe de ser um mau jogo. Contudo, claramente não entrega um mundo que parecia prometer: e joga-se o jogo com esse sentido de desilusão. E não me refiro a gráficos, mas à dimensão e funcionamento do mundo criado: parecia oferecer algo diferente das raízes de "Grand Theft Auto III", mas tudo continua na mesma. E há algo de essencialmente triste nisto tudo, porque por mais divertido que "Watch Dogs" por vezes seja, é irritante olhar para o protagonista e aquilo parecer algo que se passa no universo de "Assassin's Creed". Vale a pena ler isto no Giant Bomb, vai de acordo com o que sinto (e continuo a achar a questão da banda-sonora do jogo completamente ridícula). Ao ponto de que o encostei um pouco e pus-me a jogar o novo "Wolfenstein".

Chicago, Chicago #1

Ou a selecção musical de "Watch Dogs" é muito limitada ou tenho tido azar. Fala-se muito no downgrade visual de "Watch Dogs" e de como até a versão PS4 aparenta ser menos polida do que "Grand Theft Auto V" na PS3: não sou gajo que compara efeitos de luz entre jogos e que se passa com sombras e reflexos preguiçosos, mas também fico com essa sensação, principalmente quando estou a conduzir. A conversa nos últimos meses anda tão virada para resoluções e frame rates nas novas consolas que por vezes o resto fica de lado.

Tenho-me divertido com "Watch Dogs" mas ouvir rádio no carro é uma tortura. Joguei só ainda cerca de três horas e sinto que estou frequentemente a encontrar as mesmas músicas, algo que não tem de ser necessariamente um problema (a Rockstar é que trata esse departamento de uma forma que ninguém consegue acompanhar), mas é complicado quando a selecção musical é desinspirada, preguiçosa e completamente desadequada ao ambiente do jogo. Até agora ainda não senti uma canção a encher um momento, a preencher um espaço qualquer no meu imaginário e tornar uma situação memorável. A banda-sonora, principalmente em jogos abertos, é um aliado na construção de narrativas pessoais. Talvez por isso sinta que as minhas experiências com "Watch Dogs" têm sido genéricas e que o continuarão a ser, independentemente de me estar a divertir ou não com a Chicago que a Ubisoft criou.