Já falei de Tom Bissell noutro momento e, provavelmente, deste livro. De leituras recentes sobre videojogos esta foi a obra que mais me marcou, porque algumas das minhas ideias vão ao encontro das do autor mas também porque é contemporâneo a algumas linhas do discurso em volta dalgumas problemáticas do universo dos videojogos na actualidade.
Fala em jogos relativamente contemporâneos - isto é, desta geração de consolas - e navega em volta de algumas figuras importantes na criação de alguns títulos emblemáticos. Mas o que me levou a apaixonar por Bissell é o lado adulto que introduz ao seu discurso.
Escrita sobre videojogos existe em todo o lado. Desde que me conheço que leio sobre videojogos, mas só na última década passei a dar mais atenção ao lado mais teórico e menos jornalístico do discurso. E o lado jornalístico é uma cruz para o crescimento dos videojogos, porque perpetua a costela adolescente que o senso comum associou.
A maior parte da escrita jornalística sobre videojogos e, infelizmente, aquela que impera e tem mais leitores, limita-se a reproduzir notícias. E, novamente infelizmente, é impossível inventar muito com as notícias em volta de videojogos, porque é toda bastante factual e parte dos detalhes são enviados às mijinhas: precisamente para criar mais notícias. Por outro lado, há um medo inerente (e isto, estranhamente, sente-se com maior força nos meios mais pequenos) em comentar e emitir uma opinião.
Excepto, claro, na crítica. Eu às vezes fico impressionado com aquilo que se tem para dizer sobre um videojogo. Não é que não haja muito a dizer, mas parece-me que a crítica a videojogos não deve ser formatada e não deve ter medo de ser grande ou pequena. Falo por mim, ainda bem que existem críticas em vídeo, porque há anos que não consigo ler além da introdução e passar os olhos pela conclusão. Além do mais, escreve-se com pouco humor e a escrita é tendencialmente muito fechada ao universo em si, é raro o crítico parecer pouco mais do que um boneco.
Há excepções, claro, mas a regra que impera é da mediocridade. Em Portugal é de uma super-mediocridade, porque não existe o à-vontade de criar pelos próprios meios, mas a inevitabilidade de imitar sem receios o padrão mais banal que vem do universo anglo-saxônico. Dêem-me críticas à Edge e eu retiro o que disse. Esqueçam as notas e dividir a crítica em secções (das piores invenções na crítica a videojogos). É infantil, parece o trabalho de alguém que está a aprender a escrever e a juntar as ideias.
Temos de ser mais crescidinhos. Vamos lá.
Extra Lives - Why Videogames Matter, Tom Bissell
in Artigo